domingo, 29 de agosto de 2010

DNA Sintético

A maior descoberta da humanidade desde o fogo. A invenção mais importante (e mais controversa) desde a criação da bomba atômica. O início de uma nova era de prosperidade, saúde e desenvolvimento tecnológico para o homem - ou o começo de sua destruição. Foi assim que jornalistas, cientistas, filósofos e acadêmicos em geral receberam a proeza anunciada pelo geneticista Craig Venter: a criação em laboratório de uma forma de vida sintética. "Ficou provado que o mundo material pode ser manipulado para produzir o que chamamos de vida", diz Arthur Caplan, professor de bioética da Universidade da Pensilvânia. Até o Vaticano, mesmo fazendo as ressalvas de praxe, elogiou a pesquisa.

À primeira vista, essa forma de vida sintética não impressiona muito. Ela é só uma versão artificial da Mycoplasma mycoides - bactéria que causa doenças em bois e é conhecida desde o século 19. No laboratório, não faz muito mais que se alimentar e se multiplicar. Come como mycoides, vive como mycoides, morre como mycoides, se reproduz como mycoides. Bem, ela é uma mycoides. Qual é a grande novidade, afinal? A novidade é que essa humilde bactéria é o primeiro organismo vivo na face da Terra a funcionar com um genoma produzido artificialmente. Ou seja: o DNA que existe dentro dela foi construído em laboratório, com base num arquivo digital. "É a primeira forma de vida cujos pais são um computador", disse Craig Venter na entrevista em que apresentou a bactéria ao mundo.

Para gerar essa forma de vida, o DNA sintético teve de ser introduzido numa bactéria que já estava viva - cujo código genético foi substituído pelo genoma artificial. Ninguém conseguiu, ainda, gerar vida a partir de matéria inanimada. Mas a descoberta provou que é possível escrever DNA como se fosse um software, colocá-lo para rodar no hardware da vida (a célula), e disso obter uma nova forma de vida - que foi criada em laboratório e contém elementos definidos pelo homem. Vida artificial. Ou, se você preferir, vida sintética. Ela é filha de computadores. Mas também de um homem.

O Criador
Craig Venter. Genial e polêmico, esse pesquisador americano começou a se destacar nos anos 90, quando inventou um método mais rápido e barato para ler DNA. Então ele decidiu, por conta própria, sequenciar (ler) todo o genoma humano - código enorme, com 3,2 bilhões de letrinhas, que um consórcio internacional de cientistas já estava decifrando havia praticamente uma década. Mesmo saindo com todo esse atraso, Venter empatou com o outro grupo: finalizou a tarefa na mesma época, e gastando 90% a menos. Sua grande sacada foi descobrir que o DNA podia ser quebrado em pedaços e lido em ordem aleatória, o que agilizava o processo. Ele queria cobrar pelo acesso aos dados do DNA humano, o que gerou enorme polêmica na época. O sequenciamento do genoma deu um empurrão crucial à medicina e criou uma indústria de testes (pagando US$ 300, você pode ter seu DNA analisado em busca de predisposição a certas doenças), mas a ideia de Venter não decolou - como o outro grupo de cientistas liberou gratuitamente os dados, ele não teve escolha a não ser fazer o mesmo (não pôde vendê-los).

Mais ou menos nessa época, decidiu apostar em outro ramo: a biologia sintética. Mas, para isso, era preciso produzir um genoma. Em vez de partir do zero, o grupo de Venter decidiu copiar a sequência genética de uma criatura que já existisse na natureza: uma bactéria chamada Mycoplasma genitalium (que, como seu nome sugere, causa infecções genitais). Ela não é nada glamorosa, mas foi escolhida porque tinha o menor genoma conhecido na época, com "apenas" 500 mil letras. O DNA dessa bactéria foi escaneado. E, em janeiro de 2008, a equipe conseguiu montar uma versão sintética dele, manipulando adenina, guanina, timina e citosina - as 4 substâncias químicas que formam o genoma de todos os seres vivos (e cuja versão artificial é produzida por empresas de biologia molecular).

Agora que tinham produzido DNA artificial, os cientistas precisavam resolver a outra parte do desafio: transformá-lo numa criatura viva. Como até hoje ninguém descobriu como gerar vida a partir de matéria inanimada, a solução foi implantar o DNA artificial numa bactéria "hospedeira", cujo genoma seria suprimido. No começo, não funcionou. A equipe de Venter tentou, tentou e tentou, por mais de um ano, mas o implante nunca dava certo. O processo de fabricação do DNA gerava erros no código genético, que impediam a bactéria de funcionar. Ela simplesmente morria. Venter percebeu que o que supostamente era uma vantagem (a simplicidade genética da M. genitalium) na verdade era um problema - e que uma bactéria maior, com genoma mais extenso, seria menos suscetível aos inevitáveis erros na síntese do DNA. A equipe recomeçou todo o processo, só que com a Mycoplasma mycoides, de genoma maior (1 milhão de letras). Deu certo.

Eles produziram uma versão artificial do DNA da mycoides, implantaram em outra bactéria, e bingo: ela se transformou em mycoides e começou a se reproduzir, gerando descendentes com 100% de DNA artificial. Os cientistas se deram ao luxo, inclusive, de fazer algumas alterações no código genético. Inseriram 4 mil letras no genoma, escrevendo nele - de forma codificada, usando pedaços de adenina, guanina, timina e citosina - uma série de mensagens. Uma passagem do romance Retrato do Artista Quando Jovem, de James Joyce ("Viver, errar, cair, triunfar, recriar a vida a partir da vida"). Um trecho do livro American Prometheus, que fala sobre a criação da bomba atômica pelo físico J. Robert Oppenheimer ("Não veja as coisas como elas são, e sim como elas poderão ser"). E uma frase atribuída ao físico Richard Feynman, outro dos inventores da bomba: "O que não posso criar, não posso compreender". A fixação de Craig Venter com a bomba atômica não é coincidência. O mundo nunca mais foi o mesmo depois que o homem aprendeu a separar e fundir o átomo. E a biologia artificial promete uma transformação ainda mais profunda.

A nova vida
Por enquanto, a vida sintética é apenas uma demonstração de laboratório. Ela só será realmente útil quando os cientistas conseguirem mexer mais profundamente no DNA artificial. Se quisermos criar bactérias capazes de desempenhar funções úteis, como produzir combustíveis e curar doenças, precisaremos dar a elas os meios de fazer isso: os genes. Alguns dos genes necessários já existem na natureza - há micro-organismos capazes de comer plástico e fabricar hidrogênio, por exemplo. Esses genes poderiam ser turbinados e inseridos em criaturas com DNA artificial.

Falta muito para chegar a esse ponto. Mas poucos duvidam de que isso possa acontecer. "A ideia parece razoável", avalia o geneticista Marcelo Nóbrega, na Universidade de Chicago. "As bactérias se tornariam minirrefinarias de combustível, uma fonte renovável e não poluente de energia." É tão razoável, na verdade, que o Departamento de Energia dos EUA decidiu investir no instituto de Venter para que ele faça tudo isso acontecer o mais breve possível.

E não custa lembrar que Venter e sua equipe não são os únicos a trabalhar nisso. Um dos rivais mais fortes é o cientista David Berry, líder da empresa biotecnológica LS9, que está desenvolvendo micro-organismos capazes de fabricar um substituto do petróleo. Outro concorrente é a empresa italiana ProtoLife, que quer ir além do esforço de Venter e construir tudo na raça - quer dispensar a bactéria hospedeira e construir uma bolhinha artificial que sirva como embalagem para sua forma de vida sintética. Uma estratégia parecida foi adotada pelo físico Steen Rasmussen, do Laboratório Nacional de Los Alamos, nos EUA. Ele pretende partir de elementos básicos (como uma versão alternativa do DNA chamada PNA, mais ácidos graxos e moléculas sensíveis à luz) e então reuni-los, na esperança de que eles possam, sozinhos, iniciar um metabolismo primitivo. Em vez de fazer o caminho seguido por Venter, que é pegar células já vivas e programá-las com DNA artificial, a ideia aqui é começar de baixo, e fazer uma versão artificial da própria célula. É uma estratégia mais complicada - e mais ambiciosa. "Como estamos começando do zero", diz Rasmussen, "podemos projetar nossa protocélula para fazer coisas que as células vivas não podem fazer. Poderíamos torná-la capaz de sobreviver em qualquer ambiente: tóxico, radioativo etc." Segundo ele, essa técnica também é mais segura. "As protocélulas podem ser projetadas para não interagir com o ambiente." Ou seja: em tese, elas poderiam conter mecanismos de segurança mais avançados (por exemplo, a incapacidade de sobreviver na ausência de um determinado gás que só exista em laborátorio), para garantir que não causassem danos se escapassem ao controle humano. Como medida de segurança, Venter propõe o chamado "genoma mínimo" - quer criar bactérias que possuam pouquíssimo DNA, com 400 genes ou menos, e que por isso sejam frágeis, incapazes de sobreviver fora de condições controladas.

Os micróbios artificiais seriam cultivados em laboratórios, fábricas e usinas construídas especialmente para isso (cuja viabilidade econômica, aliás, será um grande desafio para que essa tecnologia seja usada em larga escala). Mas, cedo ou tarde, é provável que acabem escapando. E as bactérias trocam de genes entre si com mais frequência do que crianças trocam figurinhas da Copa do Mundo. Mesmo que você crie um micróbio incapaz de sobreviver sem ajuda, ele pode acabar entrando em contato com uma bactéria natural, trocar genes com ela, e readquirir essa capacidade. E aí? Caos.

Imagine uma bactéria originalmente programada para biodegradar plástico que escape no mundo. Ou uma que comece a produzir hidrogênio (altamente inflamável) sobre as bocas de nossos fogões. E por aí vai. Não é difícil pensar em tragédias que têm como inspiração a vida sintética."Ninguém pode estar certo das consequências de fazer novas formas de vida, e devemos esperar o inesperado e o indesejado", argumenta o filósofo Mark Bedau, da Universidade Reed. O assunto está começando a mobilizar os pensadores do mundo, e já existe quem defenda um controle rígido da biologia sintética - que passaria a ser regulada por agências e tratados semelhantes aos que hoje tentam limitar a proliferação de armas nucleares. A genética está a dois passos de começar uma nova era. Se isso será bom ou ruim? Vamos ter de descobrir na prática. 


Vida em 7 etapas
Entenda como a equipe do americano Craig Venter criou uma célula com DNA sintético

1. Não comece do zero
Ninguém sabe redigir um genoma inteiro a partir do zero. Por isso, os cientistas partiram de uma bactéria que já existe na natureza: a M. mycoides. Ela foi escolhida porque tem um genoma considerado pequeno, com "apenas" 1 milhão de letras (o genoma humano é 3 200 vezes maior).

2. Leia o DNA original
Os cientistas escaneiam o DNA dessa bactéria. Para fazer isso, aplicam enzimas que quebram o DNA em pequenos pedaços - que então são submetidos a um campo magnético, lidos com raio X e digitalizados. É a mesma técnica que Craig Venter usou para decifrar o genoma humano.

3. Altere no computador
Com a sequência genética digitalizada, os cientistas podem editá-la no computador - como se fosse um arquivo de Word. Eles rescreveram trechos do DNA, incluindo 4 mil novas letras genéticas - que incluem informações como o nome da empresa de Venter e trechos de livros.

4. Transforme em molécula
Hora de transformar o código digital em genoma. Para isso, os cientistas manipulam as 4 substâncias químicas que compõem o DNA na natureza - adenina (A), timina (T), guanina (G) e citosina (C). Cada uma delas corresponde a uma letra do genoma artificial - que é montado em blocos de 1 000 letras.

5. Insira num fungo
Os blocos são injetados em fungos, que começaram a juntá-los em pedaços maiores. Os fungos fazem essas emendas aleatoriamente, sem critério. Por isso, os cientistas precisam tentar o procedimento muitas vezes - até que, por pura tentativa e erro, os fungos remontem os pedaços de DNA na ordem correta.

6. Repita o processo
Conforme os fungos vão acertando a montagem do DNA, o genoma vai ficando maior. Primeiro, eles juntaram blocos de 1 000 letras genéticas em grupos de 10 mil. Depois, 100 mil. Por fim, 1 milhão de letras - elas formam um cromossomo sintético que contém o DNA criado pelos cientistas no computador. 



7. Implante numa célula
O cromossomo é injetado num ser vivo - no caso, uma bactéria chamada M. capricolum. Sob o controle do genoma artificial, essa bactéria se transforma numa nova espécie, cujas características são definidas pelo DNA artificial. Está criada uma forma de vida sintética.

Para que serve tudo isso?
A criação de novas formas de vida pode revolucionar nossa relação com a biosfera terrestre

Produção de combustíveis
Os organismos sintéticos poderiam ser manipulados para produzir hidrogênio - um combustível altamente eficiente, e cuja queima não polui o ambiente. Na natureza, já existem genes capazes de fazer isso: estão presentes em determinadas bactérias marinhas, que são capazes de "comer" metano e excretar hidrogênio como resultado.

Cura de doenças
A ideia é conceber bactérias que ajudem a combater certos tipos de doenças, como câncer e infecções resistentes a antibióticos. Bastaria criar um microorganismo programado para se alimentar de determinada proteína (que só exista nas células que você deseja destruir, como as cancerosas) e injetá-lo no organismo.

Combate ao aquecimento global
O processo de fotossíntese é a transformação de água, CO2 e luz em oxigênio e açúcar. Com a engenharia genética, talvez seja possível criar micróbios que façam a fotossíntese com mais eficiência do que as plantas - e removam mais CO2 da atmosfera, reduzindo o efeito estufa e brecando o aquecimento global.

Fim do lixo
Os lixões e os oceanos do mundo estão cheios de plástico - que levará centenas de milhares de anos para se degradar e desaparecer. Mas na natureza já existe uma bactéria, a Flavobacterium, capaz de comer um plástico: náilon. A biologia sintética poderia aperfeiçoar essa capacidade, criando um micro-organismo que pudesse digerir todos os tipos de plástico.

Acidente biológico
Se as bactérias comedoras de CO2 escapassem do controle, por exemplo, e consumissem todo esse gás da atmosfera terrestre, a temperatura no planeta cairia para -18 C. Os cientistas dizem que os organismos artificiais serão propositalmente frágeis, incapazes de sobreviver fora de determinadas condições. Mas sempre existe a possibilidade de que eles sofram mutações - e se transformem em pragas incontroláveis.

Guerra e terrorismo
Lembra dos ataques terroristas com a bactéria antraz, que assustaram os EUA em 2001? Com a biologia sintética, será possível aumentar a potência de armas como essa (desenvolvendo um antraz mais facilmente transmissível, por exemplo). Ou então criar vírus artificiais altamente letais e resistentes, contra os quais não exista nenhum tipo de tratamento conhecido. 
Fonte: Superinteressante

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

O Amor Esquece de Começar

Pesquisando sobre autores gaúchos deparei-me com uma forma inusitada e genial de fazer poesia com o livro "O Amor Esquece de Começar" do autor Fabrício Carpinejar. Martha Medeiros recomenda na apresentação da obra: "Entre o nonsense e a realidade, Fabricio Carpinejar é mestre em acertar no alvo, ora nos emocionando muito, ora nos emocionando bastante - as duas únicas reações que se pode ter diante deste livro escrito às ganhas".
 
O escritor flagra pequenos detalhes adormecidos do cotidiano e faz comparações inusitadas como a quebra do tampo do fogão com os problemas de casamento. Utiliza as duas mãos para atravessar a linguagem. De um lado, a poesia, do outro, a crônica. Explora o universo feminino, descreve quando uma mulher chega ao auge em uma relação sexual, o que ela quer, exalta a amizade da velhice, desarma os preconceitos masculinos, mostra qual a gíria entre os homens, explica que a última colher dada a um filho nunca é a última e desmoraliza expressões e eufemismos como 'dar o tempo' e 'ceder'.  A mãe é uma das figuras mais exaltadas em seu texto. "Uma mulher quer dançar para os outros homens, para chamar o seu para perto. Uma mulher quer ser restituída de suas falhas, quer que acreditem nela quando mente, que duvidem dela quando fala a verdade", expressa um dos textos. A rotina não será mais a mesma depois da coletânea, ninguém levantará os estilhaços de vidro de um copo sem pensar que  "por mais que se recolha os fragmentos, algo ficará piscando no chão no dia seguinte. O vidro faz seu colar para vender ao sol." 


Em seu livro,  o amor é uma surpresa e uma confirmação. Um renascimento para quem até então não o encontrava. Um espelho a mostrar a beleza e o vigor a quem sempre soube identificá-lo. "O Amor Esquece de Começar" é esse espelho. A mulher, principal interlocutora de seus textos certeiros, não está sozinha. O homem também pode participar dessas revelações que, apontadas numa direção, atingem todos e tudo. O amor, afinal, é o sentido da vida e o conforto para a assustadora dimensão do universo. "Quero recuperar o romantismo, uma visão cristalina e verdadeira das relações amorosas, um cuidado na fala, a sedução", revela Carpinejar. "Sem idealismo, mas com idealização. A expectativa e a confiança fazem bem ao amor e não podem ser abolidos. Desejo, com as mulheres, o consenso das mãos durante o dia e dos pés durante a noite." 


"Uma biblioteca desarrumada não significa que é menor. Estantes com filas duplas não sinalizam desordem. Um livro que não se encontra não está perdido. Não achar alguma coisa é mexer em obras esquecidas e ler o que não se esperava. Não sou contra a catalogação. Nada disso. É que livros lidos são naturalmente livros fora de ordem. Escapam do crivo, deitam em dormitório alheio, se misturam com ansiedade. Duvido de uma biblioteca ordenada em excesso, impecável, limpa. Parece que a única leitora é a traça. A vida não deixa nada em seu lugar. Como ler sem contrariar o rumor alfabético? Como viver sem contradição? O mesmo posso pensar dos amores. Desejamos ao longo dos dias ter um casamento regulado, com todos os volumes cadastrados e que sirva mais como um móvel para decoração do que uma escada de leitura. Amor, como uma biblioteca, não é posse, mas despertence. Quanto mais leio mais perco as certezas do começo. Quanto mais amo mais apresso o final. Um livro não dirá onde estamos, uma paixão não consola, ambos apontarão para onde podemos ir dentro do corpo.

É possível viver dois amores ao mesmo tempo? Sim, é possível viver até três amores ao mesmo tempo, porém o esgotamento nervoso chega junto. Desde que um amor não seja a migalha do outro. Desde que o amor não seja a falta de solidão, e sim a solidão assumida. Desde que o amor não seja a segurança do egoísmo e sim a insegurança do diálogo. Desde que um amor não seja o complemento do outro. Pois amores não se completam, se bastam. Não adianta somar duas carências para gerar uma terceira. Dois amores são possíveis no início, para se desentenderem logo em seguida. O amor que é forte, luminoso, não permite concorrência. Amor é naufrágio, nem todos encontram madeira boiando para voltar a si. Dois amores são possíveis ao mesmo tempo porque um deles será o proibido. Porém, o proibido pode ser transar com a esposa, não a amante, e quem dançará sozinha depois é a amante. Difícil de compreender? Permanecer no casamento ou na estabilidade, desde que se amem, é hoje a mais alta transgressão. Aventurar-se fora de seus domínios cheira a regra. Não existe roteiro pronto. Assim como o marido pode segurar a vela de seu enterro e as duas arranjarem coisa melhor pela frente. O amor não está em uma instituição, mas na capacidade de suplantá-la.

Amor não se mede, se confunde. É impraticável comparar relacionamentos como ofertas de lojas. Um amor que não pode ser comparado é difícil de esquecer (ainda que a separação aconteça). Aquele que já permite comparação demonstra ser pouco consistente (ainda que os dois fiquem juntos). A gente ama para quê? Para não avaliar o amor. Não conseguir acompanhá-lo é quando vai bem. Quando se começa a ter consciência do certo ou do errado é aviso prévio. Sintomático que os casais peçam conselhos aos amigos para fazer em seguida tudo diferente. Amor muda as regras de propósito, muda o telefone, muda o endereço. Quem não está jogando não entenderá. É feito somente para jogar, não ser assistido. O mistério é não entendê-lo a ponto de preveni-lo. Prevenir o amor é matar a capacidade de aprender com suas conseqüências."

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Horsetail Falls - Cachoeira de fogo

Horsetail Falls é uma pequena cachoeira sazonal, que aparece somente no final do inverno e início da primavera. A cachoeira está localizada no Parque Nacional de Yosemite, um  parque famoso pela beleza de suas cachoeiras, localizado nas montanhas da Serra Nevada, Califórnia. 

A cachoeira tem como tela de fundo, uma impressionante parede de granito que, com luz e hora certa, proporciona fotos incríveis. Ela aparece em alguns dias de fevereiro, quando o céu está claro e os últimos raios solares do dia caem de forma especial sobre a cachoeira, iluminando suas águas com um brilho dourado, ganhando uma aparência de fogo.

Um momento único e maravilhoso para os fotógrafos, que esperam ansiosos pelo espetáculo que não dura mais de um minuto. Aprecie fotos da beleza de Horsetail falls,  a cachoeira de fogo do parque Yosemite.


 







sexta-feira, 6 de agosto de 2010

AS ROSAS DE BOBBY

Bobby começava a sentir frio, sentado no quintal, sob a neve Bobby não calçava botas; não gostava. E além disso não tinha uma. O tênis desgastado tinha alguns furos.

Bobby já estava no quintal por quase uma hora. Tentava encontrar uma idéia para o presente de Natal de sua mãe. Agitou a cabeça quando pensou: isto é inútil, mesmo que me ocorra uma idéia, não tenho dinheiro para comprar.

Desde que seu pai os tinha abandonado, há três anos, a família de cinco pessoas vinha sofrendo muito. Não porque sua mãe não se esforçasse. Apenas nunca conseguia o suficiente. Trabalhava à noite no hospital, mas o pequeno salário que ganhava não resolvia.

O que faltava para a família em dinheiro e bens materiais, era compensado pelo amor e pela união da família. Bobby tinha duas irmãs mais velhas e uma mais nova. Cuidava da casa na ausência da mãe. As três irmãs já tinham bonitos presentes para sua mãe.
Era véspera de Natal e ele não tinha nada.

Enxugando uma lágrima nos olhos, Bobby chutou a neve e começou a andar para uma rua onde ficavam os shoppings e as lojas. Não era fácil ser um garoto de seis anos sem um pai, especialmente quando precisava de um homem para conversar.

Bobby andou de loja em loja, olhando cada vitrine decorada. Tudo parecia tão bonito e tão fora do alcance. Estava começando a escurecer e Bobby voltou-se, relutante, para a caminhada de volta. Então, de repente, seus olhos encontraram o brilho dos últimos raios do sol que refletiam em algo no meio-fio. Abaixou-se e descobriu uma brilhante moeda de dez centavos. Nunca se sentira tão rico como naquele momento.

Quando guardou o seu tesouro, um calor espalhou-se por todo o seu corpo e entrou na primeira loja que viu. Sua excitação transformou-se rapidamente em frio quando o vendedor lhe disse que não poderia comprar nada com apenas uma moeda de dez centavos.

Ele entrou em uma floricultura. Quando o dono perguntou se poderia lhe ajudar, Bobby mostrou a moeda de dez centavos e perguntou se poderia comprar uma flor para presente de Natal de sua mãe. O dono da loja olhou para Bobby e sua moeda de dez centavos. Então pôs a mão sobre o ombro de Bobby e disse-lhe:
- Espere um pouquinho aqui e verei o que posso fazer para você.

Enquanto esperava, Bobby admirava as flores na loja. Mesmo sendo um jovem menino, sabia que as mães e as meninas gostavam de flores. O som da porta que fechava-se com a saída do último cliente, trouxe Bobby de volta à realidade. Na loja vazia, Bobby começou a se sentir sozinho e receoso.

O dono da loja voltou trazendo um arranjo de doze rosas vermelhas de longas hastes amarradas por um grande laço prateado. O coração de Bobby disparou enquanto o homem ajeitava as flores delicadamente em uma caixa branca.
- São dez centavos, meu jovem, disse o dono da loja levando a mão para pegar a moeda.
Lentamente, Bobby moveu sua mão para entregar sua moeda. Poderia ser verdade? Ninguém lhe venderia algo tão bonito por dez centavos!
Sentindo a relutância do menino, o dono da loja acrescentou:
- Me ocorreu ter algumas rosas para vender por dez centavos. Você gostaria?
Desta vez Bobby não hesitou e quando o homem colocou a caixa em suas mãos, soube que era verdade.
Saindo da loja, Bobby ouviu o dono da loja dizer:
- Feliz Natal, filho.

Nisso, entra a esposa do proprietário da loja, que estava nos fundos e pergunta:
- Onde estão as rosas que você estava preparando?
Olhando pela vitrine e com lágrimas nos olhos, respondeu:
- Uma coisa estranha me aconteceu esta manhã. Quando eu estava abrindo a loja, eu pensei ouvir uma voz que me dizia para reservar uma dúzia de minhas melhores rosas para um presente especial. Eu não entendi o que acontecia mas, de qualquer maneira, eu as guardei. Então, há alguns minutos um pequeno menino entrou na loja e queria comprar uma flor para sua mãe com uma moeda de dez centavos. Quando o olhei, eu me vi, muitos anos atrás, quando eu não tinha nenhum dinheiro para comprar um presente de Natal para minha mãe. Um homem barbudo, que eu nunca tinha visto, me parou na rua e me deu dez dólares. Quando eu vi o menino, eu soube de quem era a voz, e lhe arranjei uma dúzia de minhas melhores rosas.

O proprietário da loja e sua esposa abraçaram-se firmemente e fecharam a loja. E, enquanto caminhavam pela noite fria, de alguma forma não sentiam frio.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Telescópio Espacial - Buckyballs

O Telescópio Espacial Spitzer descobriu no espaço, pela primeira vez, moléculas de carbono conhecidas como "buckyballs", uma espécie de bola de futebol formada por 60 átomos de carbono. [Imagem: NASA/JPL-Caltech]

O Telescópio Espacial Spitzer, da NASA, descobriu no espaço, pela primeira vez, moléculas de carbono conhecidas como "buckyballs". Buckyballs são moléculas em forma de bola de futebol que foram observadas pela primeira vez em laboratório há apenas 25 anos. Elas devem seu nome à semelhança com as cúpulas geodésicas do arquiteto Buckminster Fuller, que têm círculos interligados na superfície de uma meia-esfera. Os cientistas já acreditavam que elas poderiam existir flutuando no espaço, mas ninguém havia conseguido detectá-las até agora.

"Nós encontramos aquelas que são agora as maiores moléculas existentes no espaço," disse o astrônomo Jan Cami, da Universidade de Western Ontario, no Canadá. "Estamos particularmente entusiasmados porque elas têm propriedades únicas que as torna elementos importantes para todos os tipos de processos físicos e químicos acontecendo no espaço."

As buckyballs são formadas por 60 átomos de carbono dispostos em estruturas esféricas tridimensionais. Seus padrões alternados de hexágonos e pentágonos coincidem com o desenho típico de uma bola de futebol. Os astrônomos descobriram também, pela primeira vez no espaço, a parente mais alongada das buckyballs, conhecida como C70. Estas moléculas, constituídas de 70 átomos de carbono, têm uma forma ovalada, mais parecida com uma bola de rugby. Os dois tipos de moléculas pertencem a uma classe conhecida oficialmente como buckminsterfulerenos, ou simplesmente fulerenos.

As bolas de carbono foram localizadas em uma nebulosa planetária chamada Tc 1. Nebulosas planetárias são restos de estrelas como o Sol, que expelem suas camadas exteriores de gás e poeira à medida que envelhecem. Uma estrela quente e compacta, ou anã branca, que está no centro da nebulosa, ilumina e aquece essas nuvens de poeira estelar. As buckyballs foram encontradas nessas nuvens, talvez refletindo uma fase curta da vida da estrela, quando ela arremessa para o espaço uma nuvem de material rico em carbono.

As buckyballs vibram em uma grande variedade de modos - 174 maneiras diferentes de sacudir, para ser mais exato. [Imagem: NASA/JPL-Caltech/University of Western Ontario]
Os astrônomos usaram os instrumentos de espectroscopia do Spitzer para analisar a luz infravermelha da nebulosa planetária, observando então as assinaturas espectrais das buckyballs. Estas moléculas estão aproximadamente a temperatura ambiente, a temperatura ideal para emitir os distintos padrões de luz infravermelha que o Spitzer consegue detectar.

Segundo Cami, o Spitzer olhou para o lugar certo na hora certa. Um século mais tarde, e as buckyballs poderiam estar frias demais para serem detectadas. As buckyballs vibram em uma grande variedade de modos - 174 maneiras diferentes de sacudir, para ser mais exato. Quatro desses modos de vibração fazem as moléculas absorver ou emitir luz infravermelha. Todos os quatro modos foram detectados pelo Spitzer.

Os astrônomos estudaram os dados, um espectro como o mostrado na figura, para identificar as assinaturas, espécies de impressões digitais das moléculas. Os quatro modos de vibração das buckyballs estão indicados pelas setas vermelhas. Da mesma forma, o Spitzer identificou os quatro modos de vibração das moléculas C70, indicados pelas setas azuis.

Bibliografia:

Detection of C60 and C70 in a Young Planetary Nebula
Jan Cami, Jeronimo Bernard-Salas, Els Peeters, Sarah Elizabeth Malek
Science
22 July 2010
Vol.: Science Express
DOI: 10.1126/science.1192035