terça-feira, 29 de setembro de 2009

Hubble - Por trás das fotos

O Telescópio Espacial Hubble é conhecido por proporcionar belas e muitas vezes bizarras fotos coloridas de galáxias, planetas e nebulosas. Será que as fotos refletem as verdadeiras cores desses objetos da mesma forma que seriam se as visitássemos em uma nave? As respostas para essa questão exigem uma espiada nos bastidores - um olhar de como o Hubble faz realmente essas imagens.

Tirar fotografias a cores com o Telescópio Espacial Hubble é muito mais complexo do que tirar fotos com uma câmera tradicional. Por um lado, o Hubble não usa película de cor - aliás, não usa filme para as fotos. Ao contrário, suas câmeras gravam a luz do universo com detectores eletrônicos especiais. Estes detectores produzem imagens do cosmos não em cores, mas em tons de preto e branco. As imagens coloridas são combinações de duas ou mais exposições em preto e branco para que cores sejam adicionadas durante o processamento da imagem. As cores nas imagens do Hubble, que são atribuídas por várias razões, nem sempre são o que veríamos se pudéssemos visitar os objetos fotografados em uma nave espacial. Costumam usar a cor como um instrumento, seja para realçar detalhes de um objeto ou visualizar o que normalmente não poderia ser visto pelo olho humano.

A cor em imagens do Hubble é utilizada para destacar características interessantes do objeto celeste que está sendo estudado. É adicionada às exposições em preto e branco que são combinadas para fazer a imagem final. Essa criação de imagens em cores fora das exposições originais em preto e branco pode ser chamada de arte e ciência. A luz dos objetos astronômicos vem em uma ampla gama de cores, cada uma correspondendo a um determinado tipo de onda eletromagnética. Hubble pode detectar todos os comprimentos de onda da luz visível e muitos outras que são invisíveis aos olhos humanos, tais como a luz ultravioleta e infravermelho. Objetos astronômicos, muitas vezes parecem diferentes nestes diferentes comprimentos de onda da luz. Para gravar o que se parece com um objeto em um determinado comprimento de onda, o Hubble usa filtros especiais que permitem apenas uma gama de comprimentos de onda determinados através de luz. Assim que as luzes indesejadas são filtradas, a luz restante é gravada. Muitos filtros Hubble permitem a gravação de imagens em uma variedade de comprimentos de onda da luz. Desde que as câmeras possam detectar a luz fora do espectro de luz visível, o uso de filtros permite aos cientistas estudar "invisíveis" características de objetos - que só são visívelis no ultravioleta e infravermelho. No exemplo abaixo, a galáxia NGC 1512 está representada em vários comprimentos de onda diferentes. Hubble isola estes comprimentos de onda específico usando filtros especiais. Escolhendo um filtro especial, revela uma imagem da galáxia tomada por esse filtro - ou seja, em um intervalo de comprimento de onda específico. A imagem finalizada à esquerda é uma real combinação de todas as imagens filtradas.





Muitas imagens coloridas do Hubble são combinações de três exposições separadas - uma para cada tomada nas cores vermelho, verde e azul. Quando misturado em conjunto, estas três cores de luz podem simular quase todas as cores de luz que são visíveis aos olhos humanos. Essa é a forma como televisores, monitores de computador e câmeras de vídeo recriam as cores.



Veja algumas das maneiras de usar a cor, explorando algumas das mais famosas imagens do Hubble.

Cor Natural:
Galáxia ESO 510-G13



Essa imagem da galáxia ESO 510-G13 foi construída partir de três diferentes exposições em preto e branco que representam a luz vermelha, verde e azul da galáxia.

As cores atribuídas a cada uma dessas imagens foram escolhidas para simular as cores reais da galáxia.


Grande parte da galáxia aparece esbranquiçada, pois contém estrelas de muitas cores diferentes que se combinam para criar uma aparência branca na imagem final.

No entanto, perto da faixa escura de gás que corta o meio desta galáxia, a luz aparece mais vermelha porque os blocos de gás de luz azul são mais eficazes do que a luz vermelha.


Cor Representativa: Saturno

A luz infravermelha que Hubble capturou para fazer esta imagem de Saturno é invisível aos olhos humanos. Foram adicionadas cores para revelar os detalhes que nossos olhos poderiam ver se eles fossem sensíveis à luz infravermelha. Foi atribuída a cor azul para a luz infravermelha de comprimento de onda curta , vermelho para o comprimento de onda longo e verde para o comprimento de onda intermediário. As faixas coloridas surgem porque as diferenças químicas em camadas superiores dos anéis de Saturno causam essas nuvens para refletir a luz solar em diferentes formas. Perto do equador, as camadas superiores dos anéis de Saturno fortemente refletem a luz infravermelha aqui representadas pelas cores vermelha e verde, que se combinam para tornar amarelo neste tipo de reconstrução de cor. Perto dos pólos, as camadas superiores de nuvens não são tão reflexivas e podemos ver até a camada de nuvens principal, que reflete fortemente o tipo de luz infravermelha aqui representada pelo azul.

Cor Realçada: Nebulosa Olho de Gato

A nebulosa Olho de Gato é constituída por gases ejetados no espaço exterior por uma estrela "morta". Elementos químicos individuais na nebulosa emitem luz em comprimentos de onda muito específicos.

As três imagens em preto e branco usadas para construir essa imagem representam a luz de átomos de hidrogênio, átomos de oxigênio, nitrogênio e íons (átomos de nitrogênio com um elétron removido).

As três imagens correspondem a diferentes tons de luz vermelha, por isso, aumentam a diferença de cor para tornar as estruturas delicadas da nebulosa mais óbvias.

Neste caso, a luz dos átomos de hidrogênio é mostrada em vermelho, a luz de oxigênio é mostrada em azul e a luz do nitrogênio é mostrada em verde.

Cor Natural:
Marte



Esta imagem de Marte foi construída a partir de três diferentes imagens em preto e branco da gravação de luz vermelha, luz verde e luz azul refletida do planeta.

As cores atribuídas a cada uma dessas imagens foram escolhidas para simular as cores reais de Marte.

Não surpreendentemente, a mais brilhante imagem em preto e branco do planeta vermelho é tirada através de um filtro vermelho.

No entanto, note que a calota de gelo do norte nas imagens em preto e branco é igualmente brilhante em vermelho, verde e azul porque a sua verdadeira cor é branca.

Cor Representativa: Nebulosa do Ovo

Esse quadro de luz infravermelha da Nebulosa do Ovo mostra os últimos suspiros de uma estrela que está morrendo. Como a luz infravermelha é invisível para os seres humanos, usamos três cores diferentes para representar os três comprimentos de onda da luz infravermelha.

O azul representa o comprimento de onda intermediário da luz infravermelha refletida por partículas de poeira em torno da estrela morrendo. Verde representa o comprimento de onda longo refletido na luz das estrelas.

O vermelho representa a luz infravermelha a partir de moléculas de hidrogênio em torno da estrela.
A cor vermelha indica um cinturão de gás molecular que cerca a estrela. A cor azul é mais forte acima e abaixo da cintura, porque é onde a luz das estrelas mais está escapando.

Cor Realçada: Nebulosa da Águia

A Nebulosa da Águia é uma região de nossa galáxia onde as estrelas se formam a partir de nuvens de gás hidrogênio. A luz ultravioleta de estrelas recém formadas nas imediações da nebulosa bombeia energia para estas nuvens de gás, fazendo-as brilhar na luz visível.

A imagem final mostra a luz vermelha dos átomos de hidrogênio como a luz verde, luz vermelha de íons de enxofre (átomos de enxofre com um elétron removido) como vermelho, verde e luz de oxigênio duplamente ionizado (os átomos de oxigênio com dois elétrons faltantes), como azul.

Esses deslocamentos de cor aumentam o nível de detalhe visível na imagem, de outra forma seria difícil distinguir a luz vermelha do hidrogênio e do enxofre.

Na imagem final, a névoa azul/verde indica a luz de hidrogênio e oxigênio ao redor das colunas escuras. As colunas exibem a luz avermelhada que identificam a luz do enxofre.




domingo, 27 de setembro de 2009

Chuva Seca

Um dos mais belos espetáculos da natureza transformado em arte por mãos humanas. A criatividade é algo realmente incrível quando usada com sabedoria.

Enjoy:


Ser, Ter e Fazer de Conta

Texto da Equipe de Redação do Momento Espírita

Recentemente uma professora que veio da Polônia para o Brasil ainda muito jovem proferia uma palestra e com muita lucidez trazia pontos importantespara reflexão dos ouvintes. Já vivi o bastante para presenciar três períodos distintos no comportamento das pessoas, dizia ela.

O primeiro momento eu vivi na infância quando aprendi de meus pais que era preciso SER. Ser honesta, ser educada, ser digna, ser respeitosa, ser amiga, ser leal. Algumas décadas mais tarde, fui testemunha da fase do TER. Era preciso ter. Ter boa aparência, ter dinheiro, ter status, ter coisas, ter e ter...

Na atualidade, estou presenciando a Fase do Faz de Conta. Analisando sob esse ponto de vista, chegaremos à conclusão que a professora tem razão. Hoje, as pessoas fazem de conta que está tudo bem. Pais fazem de conta que educam, professores fazem de conta que ensinam, alunos fazem de conta que aprendem. Profissionais fazem de conta que são competentes, governantes fazem de conta que se preocupam com o povo e o povo faz de conta que acredita. Pessoas fazem de conta que são honestas, líderes religiosos se passam por representantes de Deus e fiéis fazem de conta que têm fé.

Doentes fazem de conta que têm saúde, criminosos fazem de conta que são dignos e a justiça faz de conta que é imparcial. Traficantes se passam por cidadãos de bem e consumidores de drogas fazem de conta que não contribuem com esse mercado do crime. Pais fazem de conta que não sabem que seus filhos usam drogas, que se prostituem, que estão se matando aos poucos e os filhos fazem de conta que não sabem que os pais sabem.

Corruptos se fazem passar por idealistas e terroristas fazem de conta que são justiceiros... E a maioria da população faz de conta que está tudo bem... Mas uma coisa é certa: não podemos fazer de conta quando nos olhamos no espelho da própria consciência. Podemos até arranjar desculpas para explicar nosso faz de conta, mas não justificamos. Importante salientar, todavia, que essa representação no dia-a-dia, esse faz de conta, causa prejuízos para aqueles que lançam mão desse tipo de comportamento.


A pessoa que age assim termina confundindo a si mesma e caindo num vazio, pois nem ela mesma sabe quem é, de fato, e acaba se traindo em algum momento. E isso é extremamente cansativo e desgastante. Raras pessoas são realmente autênticas. Por isso elas se destacam nos ambientes em que se movimentam. São aquelas que não representam, apenas são o que são, sem fazer de conta. São profissionais éticos e competentes amigos leais, pais zelosos na educação dos filhos, políticos honestos, religiosos fiéis aos ensinos que ministram. São, enfim, pessoas especiais, descomplicadas, de atitudes simples, mas coerentes e, acima de tudo, fiéis consigo mesmas.

A pessoa que vive de aparências ou finge ser quem não é corre sérios riscos de entrar em depressão. Isso é perfeitamente compreensível, graças à batalha que trava consigo mesma e o desgaste para manter uma realidade falsa. Se é fácil enganar os outros, é impossível enganar a própria consciência. Por todas essas razões, vale a pena ser quem se é, ainda que isso não agrade os outros. Afinal, não é aos outros que prestaremos contas das nossas ações, e sim a Deus e à nossa consciência.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Terapia de Vidas Passadas

Milton Menezes

O tema Terapia de Vida Passada - TVP - ganhou, ultimamente, grande espaço nos meios de comunicação em geral. Como todo tema polêmico, tem gerado muitos debates e opiniões. Mas por que uma proposta terapêutica como essa pode gerar tanta polêmica? Pelo lado da ciência, o centro da questão está na utilização de uma hipótese de trabalho reencarnacionista, que a ciência ocidental continua julgando um tema religioso ou místico, que não pode ser considerado como objeto de estudo.

Para a Doutrina Espírita, apesar defender a reencarnação como processo natural na vida do ser humano, a questão está na utilização da Regressão de Memória à nossas vidas passadas. O objetivo deste artigo será o de discutir alguns dos principais pontos desta relação entre a Terapia de Vida Passada e o Espiritismo.

Para evitar os “achismos”, resolvemos fazer uma pesquisa a nível nacional, no final de 1998, em que apresentávamos para a população espírita um questionário sobre a Terapia de Vida Passada. Dos 500 que foram respondidos, identificamos algumas das principais preocupações do espírita em relação à Terapia de Vida Passada - TVP - e a Regressão de Memória:

  • Necessidade do esquecimento do passado;
  • Não poder interferir no processo de sofrimento causado por problemas no passado;
  • Fazer Regressão por curiosidade;

Na verdade, o que se pode observar é que a maioria das pessoas tem dúvidas se deveriam ou não utilizar a TVP como recurso, não tem uma informação correta sobre o que é a TVP, hoje.

A TVP se insere na abordagem da Psicologia Transpessoal, um ramo mais recente da Psicologia que considera o componente espiritual como uma das dimensões do ser humano, que interfere no entendimento do homem e de seus sofrimentos. Porém, na TVP consideramos a hipótese de trabalho da reencarnação como base de explicação do conteúdo obtido no processo de Regressão de Memória, isto é, julgamos que os relatos obtidos com os indivíduos em Estado Alterado de Consciência se referem às suas experiências vividas em outras encarnações.

Para a TVP, a maioria dos problemas que temos na vida atual decorrem de situações traumáticas ou bastante desequilibradas que foram vividas pelo indivíduo no passado e que deixaram marcas profundas no seu psiquismo profundo. Todas essas experiências estão registradas nesta instância Inconsciente que o Dr. Jorge Andréa (1) chama de Inconsciente do Pretérito. Algumas situações na vida atual, parecem desencadear o surgimento, na zona mais consciente do psiquismo, desses desequilíbrios, transformando-se em verdadeiras patologias. Podemos citar as fobias, a Síndrome do Pânico, distúrbios de comportamento como os sexuais ou os compulsivos, a depressão, a ansiedade, etc. como algumas que podem se beneficiar com o tratamento pela TVP.

O primeiro passo do processo está em tornar consciente esse conteúdo do passado. É nesse momento que podemos utilizar a Regressão de Memória na identificação da situação do passado geradora do sofrimento atual. Posterior e concomitantemente a essa identificação, teremos que utilizar diversas intervenções específicas para cada caso, visando dissociar a personalidade atual daqueles traumas vividos no passado. Como vimos não basta apenas lembrar o passado. Há uma necessidade de um acompanhamento terapêutico criterioso do delicado conteúdo emocional e psíquico que surge do processo de Regressão. A nossa experiência tem indicado a necessidade da TVP só ser feita por profissional da área de saúde mental que estaria habilitado ao processo de forma integral.

Como podemos ver a finalidade da TVP é terapêutica. Com isso desfaz-se uma das grandes preocupações do público espírita, em particular: a curiosidade. Na verdade o terapeuta, quando executa um trabalho sério, não considera os casos em que as pessoas procuram para saber o que foram ou fizeram de extraordinário em suas vidas passadas. Julgamos que o material que lidamos seja muito delicado para uma finalidade fútil !

Mas, a questão mais delicada do espírita parece ser a de se “levantar o véu que encobre o passado” já que seria uma “dádiva divina”. Se observarmos no contexto da Doutrina, as principais referências sobre o assunto estão em O Livro dos Espíritos na parte 2a., cap. VII, em um item que engloba as perguntas 392 à 399, com o título: O esquecimento do passado. Nesse ponto os Espíritos alertam para os inconvenientes que a lembrança do passado teria para os indivíduos. E nós concordamos inteiramente com isso !!! Vamos observar que este capítulo trata “Da Volta do Espírito à Vida Corporal”. É claro que quando voltamos ao corpo físico necessitamos do esquecimento de nossas vidas pregressas. Como, uma criança conseguiria estruturar uma nova personalidade lembrando simultaneamente de todas as suas vidas passadas? Seria impossível.

Diversas obras na literatura espírita defendem a utilização terapêutica da Terapia de Vida Passada. Dos autores encarnados, citamos o Dr. Jorge Andréa, psiquiatra e pesquisador do psiquismo profundo e da reencarnação com vasta contribuição nessa área. Mesmo entre os desencarnados, através das obras psicografadas, não há uma contra-indicação à utilização da TVP nos casos em que verificamos graves problemas psíquicos, emocionais, físicos ou de comportamento. Pelo contrário. Espíritos como Joanna de Ângelis (2) e Bezerra de Menezes (3) tem ressaltado, através de algumas de suas obras, a importância deste tipo de abordagem científica na minimização do sofrimento humano. Mas é claro que a TVP não é uma panacéia capaz de resolver todos os problemas. Como toda abordagem terapêutica tem suas limitações e dificuldades que somente uma atuação séria e criteriosa poderá superar, ampliando o potencial de cura de sua aplicação.

É o sofrimento o nosso grande objetivo! Para nossa surpresa, muitos espíritas responderam afirmativamente à questão: “o sofrimento é a melhor forma de pagarmos os erros do passado”. Isso pode levar a um entendimento distorcido da finalidade da vida e do sofrimento. A Doutrina Espírita (4) deixa bem claro qual é o objetivo das encarnações sucessivas: o desenvolvimento moral e intelectual do ser. O sofrimento representa um desequilíbrio resultante de um comportamento inadequado do passado que ainda mantém características na personalidade atual. Na medida em que se resolvam as causas cessam-se os efeitos. Em O Livro dos Espíritos, questão 1004, Kardec pergunta sobre o critério de duração dos sofrimentos a que os espíritos respondem ser função da melhora do indivíduo. Na resposta fica clara a finalidade pedagógica do sofrimento, pois quando a pessoa melhora o aspecto desequilibrado o sofrimento perde o sentido, modificando-se ou extinguindo-se.

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo 5, temos a orientação dos espíritos de que devemos empreender todos os nossos esforços no sentido de minimizar o sofrimento dos homens. Ora se a TVP desponta como um instrumento da ciência que pode ajudar nesse processo de aprimoramento do ser humano pela dura de alguns de seus sofrimentos, por que não utilizá-la? Será que não poderíamos utilizar a TVP para ajudar uma pessoa a superar sua Síndrome do Pânico ou de uma depressão profunda por exemplo, simplesmente porque utilizaremos de suas lembranças pretéritas? Nos parece que se a TVP é uma conquista da Ciência ela está consoante aos desígnios de Deus para o progresso da Humanidade.

A ciência avança no sentido da confirmação do espírito, como origem e princípio básico da vida, e da reencarnação como mecanismo natural fundamental para o entendimento do homem e de seus sofrimentos. A TVP, aplicada de forma séria e criteriosa, demonstra ser um instrumento legítimo deste movimento. Como resultado desta aplicação o indivíduo se reconhece como ser espiritual eterno em passagem temporária de aprendizado pelo corpo. Ao verificar as conseqüências de seus atos passados nos seus problemas atuais pode refletir e decidir sobre quais são os valores existenciais essenciais para o seu espírito hoje e descobre a necessidade de desenvolver o Abrandamento de suas tendências negativas e a Aceitação dos problemas que enfrentamos. Ao final, perceberá a necessidade de reclamar menos e Amar mais, a si mesmo e aos outros.

Referências Bibliográficas:

(1) Palingênese, a Grande Lei - Jorge Andréa

(2) O Homem Integral - Joanna de Angelis/Divaldo Franco;

(3) Loucura e Obsessão - Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco;

(4) O Céu e o Inferno - Kardec - 1a. parte, cap. III, item 8.

(5) O Livro dos Espíritos - Kardec - Questões 392 à 399;

(6) O Evangelho Segundo o Espiritismo - Kardc - Cap. 5;

(7) Terapia de Vida Passada e Espiritismo - Distâncias e Aproximações - Milton Menezes

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Viagem Astral - Desdobramento

A viagem astral ou desdobramento é quando a alma sai consciente do corpo físico durante o sono ou nos sonhos. Na verdade todas as pessoas ao dormirem deixam o seu corpo físico no leito e saem com o seu corpo astral para repetir tudo aquilo que fizeram durante o dia. Geralmente não se lembram destas experiências devido a inconsciência, pois como já sabemos usamos apenas uma parte mínima do nosso potencial, estando com uma gigantesca parte totalmente adormecida. Todo homem é formado por um trio de Corpo, Alma e Espírito. O corpo físico é este que conhecemos, construído de matéria física, que se alimenta de sólidos, líquidos e gases. A alma ou corpo astral é o intermediário entre a matéria e o espírito. E o espírito é o nosso real Ser, o que de mais elevado existe.

O cordão de prata é um corpo fluídico na forma de elástico, que liga o corpo astral ao corpo físico. Tem este nome devido à alta vibração de suas partículas fluorescentes geralmente nas cores prateadas. Durante o dia o corpo astral com suas agitações, emoções, as atividades e os impulsos, desgasta o corpo físico até que as células se revoltam provocando o cansaço e o sono. O corpo astral não necessita de repouso.

E durante o sono, quando se acha em relaxamento total, ele abandona o corpo físico, ficando ligado apenas pelo cordão de prata. Nestas condições geralmente vai repetir tudo o que fez durante o dia ou então visitar outros lugares, cidades, países ou mundos do espaço infinito, estando ainda ligado pelo cordão de prata. A morte física é o rompimento do cordão de prata que se dá quando o espírito abandona a matéria. A própria Bíblia em Eclesiastes: 12/6-7 mostra claramente o cordão de prata. “Antes que se quebre a cadeia de prata, e se despedace o copo d’ouro, e se despedace o cântaro junto a fonte, e se despedace a roda junto ao poço. E o pó volte a terra, como era e o espírito volte a Deus, que o deu.”

Mas isso nunca acontece durante a projeção astral, portanto, não tenha medo, não há razão nenhuma para ter receio, pois a viagem astral é bastante normal e sinceramente não há palavras para descrever as maravilhas das viagens fora do corpo.

O nosso corpo físico, juntamente com tudo que é material, se encontra na terceira dimensão. No entanto, a nossa alma está na quarta, que é o tempo ou o mundo astral. Este mundo é uma réplica do mundo físico e tudo que tem de um lado, tem o seu correspondente no outro. E tudo o que existe no mundo físico teve a sua origem anteriormente no plano astral. Os nossos próprios pensamentos, memórias, emoções, estão na quarta dimensão e em nada tem a ver com o mundo material. O corpo astral é um organismo vivente que possuí maravilhosos sentidos pelos quais podemos fazer investigações nos mundos superiores.

A viagem astral, desdobramento astral, ou projeção psíquica, sempre foi conhecida pelos místicos, santos e ocultistas desde a mais remota antigüidade. Na gloriosa civilização egípcia por exemplo, o corpo astral era representado por um pássaro chamado KA, que de tempos em tempos visitava o corpo mumificado. Atualmente, nos modernos estudos de parapsicologia a viagem astral é conhecida como Out-Of-Body Experience. Em todo o mundo, principalmente na Rússia e nos Estados Unidos, há um interesse muito grande nestes estudos, e inclusive existem universidades especializadas neste ramo fazendo parte de pesquisas consideradas secretas. Na Universidade de Virgínia, por exemplo, foram realizadas experiências extra-corpórea, totalmente controladas em laboratório, com o Dr. Robert Moroe, que chegou a publicar alguns livros mostrando os extraordinários resultados.

Sabemos que a humanidade está 97% inconsciente e apenas 3% consciente. É devido a isto que traz poucas lembranças das experiências no mundo astral. A mesma consciência do corpo físico é a do corpo astral e que desperta a consciência no mundo físico também despertará no mundo astral. Quando a pessoa fica consciente no sonho ela pode controlar os seus atos. Se você se lembrar que você os pode controlar, você os controlará com certeza.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Meditação

"Meditação é muito mais que um exercício de relaxamento. Neurocientistas constatam que exercícios mentais regulares modificam nossas células cinzentas - e, portanto, também nosso modo de pensar e sentir." Ulrich Kraft

Com auxílio da medição das ondas cerebrais e dos procedimentos de diagnóstico por imagem, os cientistas buscam descobrir o que nosso órgão do pensamento faz enquanto mergulhamos em contemplação interior. E os esforços já deram frutos. Segundo pesquisas, o modo de vida dos monges budistas é a chave das grandes descobertas neurocientíficas, pois eles enfrentam com serenidade e satisfação até mesmo o lado ruim da vida, a meta suprema da meditação consiste em cultivar as qualidades humanas positivas.

Os resultados dessa pesquisa high-tech, no entanto, dificilmente surpreenderiam o Dalai Lama, uma vez que não fazem senão comprovar o que os budistas praticantes vêm dizendo há 2.500 anos: a meditação e a disciplina mental conduzem a modificações fundamentais na sede do nosso espírito. No início da década de 90, seria muito difícil que algum pesquisador sério ousasse fazer tal afirmação publicamente. Afinal, uma das leis fundamentais das neurociências dizia que as conexões entre as células nervosas do cérebro estabelecem-se na infância e mantêm-se inalteradas até o fim da vida. Hoje se sabe que tanto a estrutura quanto o funcionamento de nossa massa cinzenta podem se modificar até a idade avançada. Quando alguém se exercita ao piano, além do fortalecimento dos circuitos neuronais envolvidos, novas conexões são criadas, aumentando a destreza dos dedos. O efeito produzido pelo treinamento é algo que devemos à chamada plasticidade cerebral. Em sua curta história, essa plasticidade já foi examinada, sobretudo no contexto dos exercícios físicos e dos sinais provenientes do exterior, como os ruídos, por exemplo.

Porém, queriam saber se atividades puramente mentais também poderiam modificar o cérebro e, em caso afirmativo, de que forma isso atuaria sobre o estado de espírito e a vida emocional de uma pessoa. Os budistas vêem sua doutrina como uma "ciência da mente", e a meditação, como meio de treinar a mente.


O primeiro voluntário foi um abade de um mosteiro indiano que trazia na bagagem mais de 10 mil horas de meditação e, uma vez no laboratório, logo causou surpresa. Seu córtex frontal esquerdo - porção do córtex cerebral localizada atrás da testa - revelou-se muito mais ativo que o de outras 150 pessoas sem experiência de meditação, estudadas a título de comparação.

Como já haviam constatado, tal padrão de excitabilidade sinaliza bom estado de espírito - um "estilo emocional positivo". Decisiva é aí a relação entre a atividade nos lobos frontais esquerdo e direito. Nas pessoas mais infelizes e pessimistas, o predomínio é do lado direito - em casos extremos, elas sofrem de depressão. Tipos otimistas, ao contrário, que atravessam a vida com um sorriso nos lábios, têm o córtex frontal esquerdo mais ativo.

Experimentos mostraram que essas pessoas superam com mais rapidez emoções negativas, como as que necessariamente resultam, por exemplo, da contemplação das fotos de uma catástrofe. Fica evidente que essa região cerebral mantém sob controle os sentimentos "ruins" e, dessa forma, talvez responda também pelo equilíbrio mais feliz e pela paz de espírito que caracteriza tantos budistas.

A fim de comprovar essa suposição, continuaram testando mais monges e com todos o resultado foi o mesmo. "A felicidade é uma habilidade que se pode aprender, tanto quanto um esporte ou um instrumento musical", concluiu o pesquisador. "Quem pratica fica cada vez melhor". De imediato, choveram críticas: como poderiam saber, afinal, se aqueles mestres da meditação já não possuíam cérebro "feliz" antes mesmo de pisar num mosteiro? A objeção não poderia ser descartada assim, sem mais.

Por isso mesmo, lançaram-se a novos estudos. Os pesquisadores recrutaram voluntários entre funcionários de uma empresa de biotecnologia, dividindo-os em dois grupos aleatórios. Metade formou um grupo de controle, enquanto os 23 restantes receberam treinamento em meditação ministrado por Jon Kabat-Zinn, um dos mais conhecidos mestres americanos da chamada mindfulness meditation. Nesse exercício mental, trata-se de contemplar de forma imparcial e isenta de juízo os pensamentos que passam pela cabeça, como se assumíssemos o ponto de vista de outra pessoa.

As aulas ocuparam de duas a três horas semanais, complementadas por uma hora diária de treino em casa. Como se supunha, o treinamento mental deixou vestígios. De acordo com as medições efetuadas por eletro-encefalograma (EEG), a atividade no lobo frontal daqueles que participaram do curso de meditação deslocou-se da direita para a esquerda. Isso refletiu em seu bem-estar: os voluntários relataram diminuição dos medos e um estado de espírito mais positivo.

Os resultados corroboravam com a hipótese inicial: a meditação é capaz de modificar de forma duradoura a atividade cerebral. E, ao que parece, isso funciona não apenas para os mestres da reflexão espiritual, mas também para leigos.

A fim de verificar que porções do cérebro se ativam em diversos estados emocionais e mentais, são necessárias pessoas capazes de atingir esses estados e permanecer neles com lucidez e intensidade. No caso dos monges, a forma de meditação solicitada foi àquela conhecida como compaixão incondicional: amor e compaixão penetram na mente, fazendo com que o praticante se disponha a ajudar os outros sem qualquer reserva. Os monges deveriam se manter nesse estado por um curto período de tempo e, em seguida, deixá-lo. Enquanto isso, registrariam suas ondas cerebrais com auxílio de 256 sensores distribuídos por toda a cabeça.

A comparação com um grupo de novatos na prática da meditação revelou diferenças gritantes. Durante a meditação, a chamada atividade gama sofreu forte aumento no cérebro dos monges, ao passo que mal se alterou nos voluntários inexperientes. Além disso, essas ondas cerebrais velozes e de alta freqüência esparramaram-se por todo o cérebro dos lamas.


Trata-se de um resultado bastante interessante. Em geral, ondas gama só aparecem no cérebro por um breve período de tempo, limitadas não apenas do ponto de vista temporal, mas também em termos espaciais. Que significado elas têm, os neurocientistas ainda não sabem dizer. Essas ondas cerebrais ritmadas, com freqüências em torno de 40 hz, parecem acompanhar grandes desempenhos cognitivos - momentos de concentração mais intensa, por exemplo. Talvez representem o estado de alerta extremo, descrito por tantos praticantes da meditação, especulam alguns.

Portanto, por mais relaxado que um monge budista possa parecer, seu cérebro não se desliga de modo algum enquanto ele medita. Ao contrário: durante o mergulho espiritual, fica evidente que está, na verdade, a toda. "Os valores medidos estão de fato acima do bem e do mal", relata o psico-biólogo Ulrich Ott com audível espanto. Mas o que fascina ainda mais o pesquisador é o fato de as estimulações terem atravessado de forma tão coordenada todo o cérebro dos lamas. E a razão do fascínio é que há ainda uma segunda hipótese a respeito do significado e do propósito das ondas gama, hipótese que, aliás, envolve um dos maiores mistérios da pesquisa cerebral: a questão de como surgem os conteúdos da consciência.

Quando tomamos um cafezinho, o que percebemos conscientemente é a impressão geral - os componentes isolados são processados pelo cérebro em diversas regiões. Uma reconhece a cor preta, outra identifica o aroma típico, uma terceira, a forma da xícara e assim por diante. Mas não se descobriu até hoje que área cerebral junta todas as peças desse quebra-cabeça. Por isso, os estudiosos da consciência supõem que os neurônios envolvidos se comunique por intermédio de uma espécie de código identificador - a freqüência gama. Quando as células nervosas para "preto", "aroma" e "xícara" vibram juntas a uma freqüência de 40 hz, o cafezinho surge diante do nosso olho interior. De acordo com essa tese - e diversos experimentos parecem confirmá-la -, as ondas gama constituiriam, portanto, um tipo de freqüência superior de controle que sincronizaria e reuniria regiões diversas, espalhadas por diferentes partes do cérebro. Isso explicaria por que a meditação é tida como um caminho para alcançar outros estados de consciência.

Em condições normais, as oscilações gama extremamente coordenadas que foram observadas nos monges jamais ocorreriam, se todos os neurônios vibram em sincronia, tudo se unifica, já não se distingue nem sujeito nem objeto. E essa é precisamente a característica central da experiência espiritual. Mesmo antes da meditação, a atividade gama no cérebro dos monges era visivelmente mais intensa que no restante dos voluntários, em especial sobre o córtex frontal esquerdo, tão decisivo para o equilíbrio emocional.

Essa é mais uma prova de que, pela via da meditação - ou seja, do trabalho puramente mental -, é possível modificar aspectos específicos da consciência e, portanto, da personalidade como um todo. As conexões no cérebro não são fixas. Isso quer dizer que ninguém precisa ser para sempre o que é hoje. Meditação não significa sentar-se embaixo de uma mangueira e curtir o momento. Ela envolve profundas modificações no ser. A longo prazo, nos tornamos outra pessoa.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Ação e reação

Há um fenômeno que opera nos bastidores da nossa mente, que molda as nossas reações. Se não dermos a devida atenção a ele, somos capazes de cometer as maiores barbaridades. Somos capazes de assassinar, além dos nossos sonhos, os dos outros. Se não pensarmos antes de reagir, podemos acabar com um relacionamento amistoso de anos por banalidades. Demitimos e somos demitidos também por não respeitar este fenômeno que deveria atuar como protagonista na nossa mente, e não como mero espectador. Este fenômeno chama-se: "o fenômeno dos 30 segundos".

O fenômeno dos 30 segundos significa que não devemos usar a lei da ação e reação, pois os primeiros trinta segundos devem servir para refletirmos antes de dar respostas. Nesse tempo, devíamos fazer uma linda viagem para dentro de nós mesmos, buscando a interiorização, para que uma análise das possíveis conseqüências da possível ação seja feita.

Se formos capazes de não reagir antes de pensar, utilizando o conhecimento desse fenômeno, certamente manteremos nossos melhores relacionamentos, não ofenderemos quem amamos, evitaremos intrigas, agressões e quase todo tipo de violência física ou moral que praticamos, consciente ou inconscientemente.

Equlíbrio Psíquico

Sempre com um objetivo de maior equilíbrio psíquico e melhor desenvolvimento psicológico, nos aventuramos a procura de caminhos tortuosos, procurando padrões de desenvolvimento e possibilidades restauradoras .

Esta procura é um empenho para sanar a falta de significado que existe em todos nós. Quando nos encontramos em uma encruzilhada, pode nos faltar discernimento para sabermos que caminho tomar. Quando nos deparamos com um abismo, pode nos faltar coragem para um salto no grande vazio. Quando despertos, podemos ter a sensação de estarmos sonhando. E quando sonhamos , podemos criar a realidade de estarmos acordados, através da transferência da consciência para o mundo onírico.

Transferir a nossa consciência para o mundo onírico requer um cuidado especial para fazê-lo de maneira consciente e segura. Antes de qualquer empreendimento, devemos primeiro nos ocupar com a consciência. É como se tivéssemos de sentir a firmeza do solo onde pisamos, para podermos cravar a nossa ancora de segurança antes de nos lançarmos em um abismo sem fim. Pois é assim que o inconsciente vai sempre nos parecer.

O mundo dos sonhos é muito sutil, efêmero, abstrato e irreal. Por quantas vezes escutamos nossas mães nos acalmando, na calada da noite, diante de nós crianças, com os olhos estatelados, o coração na garganta e um choro aterrador? "Não liga não! Foi só um sonho! Volta a dormir" Às vezes eu achava que o sonho era minha mãe dizendo aquilo, e que a realidade era o monstro querendo me pegar, ou aquele buraco onde eu caia, e não acabava nunca; ou uma manada de bois bravos que estourava e eu não encontrava um lugarzinho para me proteger. No fundo, eu não sei qual era pior. Se isto, ou se quando eu tinha sonhos restauradores com paisagens paradisíacas, sensações de leveza, experiências de voar. Pois... eu acordava. Mas ainda eu trazia comigo toda uma sensação de paz, de equilíbrio, de bem estar. Mas como? Se era um sonho? Quando era bom, eu podia ficar feliz e acreditar que tudo aquilo era verdadeiro e ficava feliz; e quando era ruim, era mentira? Apenas uma produção involuntária de nosso inconsciente sem o menor sentido?

Por toda esta falta de referência, ou por uma má orientação, não reconhecemos os nossos sonhos como algo real e digno de atenção. Os Tibetanos nos dizem que, para tomarmos um passo decisivo em direção à liberação dos infindáveis ciclos de morte e renascimento, devemos compreender melhor as ilusões do estado acordado antes de nos aventurarmos nas ilusões mais sutis do estado de sonhos.

A nossa dificuldade na compreensão da natureza ilusória dos sonhos, se deve ao fato de igualarmos sua imaterialidade com irrealidade, em vez de reconhecermos esta imaterialidade como uma ilusão a ser penetrada. O desenvolvimento de uma maior consciência tanto na vida acordada quanto na de sonhos é um passo essencial na compreensão da relação entre estes dois mundos. Devemos buscar a consciência, completude ou inteireza, não só nos sonhos, como também em nossas vidas diárias.

Seria extremamente penoso e desastroso tentarmos desenvolver um só lado, seja ele qual for. Se nos empenhamos na evolução de uma consciência onírica sem darmos a devida atenção à nossa vida acordada, poderemos estar gerando um grande conflito. Sob uma perspectiva de crescimento, é sempre muito bom podermos ir em direção à novas fronteiras, mas sem abandonarmos o território já conquistado.

Devemos procurar o desenvolvimento de uma consciência integradora, não causal, para entendermos e integrarmos os eventos e visões, diurnas e noturnas. Se o objetivo maior é o equilíbrio psíquico, ou seja, maior integração entre consciência e inconsciente; lucidez nos sonhos requer também lucidez na vida acordada, onde ambas seriam um instrumento valioso para se alcançar este fim.

domingo, 13 de setembro de 2009

Leitura de Imagens

Dentre os diversos assuntos abordados na disciplina de Estética e História das Artes, sem sombra de dúvidas o que se sobressai é a técnica de leitura de imagens. Nesta, é possível fazer uma análise detalhada de obras identificando técnicas, disposição e composição de elementos, simbologia, características do período e captura da essência do artista.

Para melhor entendimento, escolhi um dos quadros mais famosos de Sandro Botticelli, O Nascimento de Vênus pintado em 1483, devido a sua riqueza em detalhes e inúmeros significados ocultos pelas cores e pinceladas que nos dão como produto essa belíssima obra.


A obra foi estruturada de modo que a figura principal (Vênus) ficasse centralizada e os demais elementos da composição foram distribuídos de forma equilibrada e harmoniosa conforme os princípios da arte renascentista dando a impressão de estarem ligados uns aos outros. A pintura de Botticelli acentua o contorno dos corpos com espaços delimitados, o que dá movimento e realismo.

A cena retratada na pintura mostra Vênus, que nasce de uma enorme concha, sendo conduzida pelos ventos – os Zéfiros –, aqui representados por dois amantes. A deusa tem a seu lado direito, vinda do continente, a deusa Flora, trazendo um manto florido para cobrir a sua nudez. Os ventos sopram rosas que perfumam todo o mar.

Esta passagem parece ser uma alusão ao poema de Homero (Swinglehurst, 1996:45), no qual Zéfiro sopra Vênus, logo após o seu nascimento, até a ilha de Chipre, onde ela é recebida por Flora, que a veste e a perfuma para que seja conduzida ao monte Olimpo, e tome o seu lugar junto aos deuses imortais. A cena remete ainda ao famoso quadro de Apeles (séc. IV a. C.), o grande pintor grego, que representa Afrodite com o epíteto de Anadiômene, "a que surge" das ondas do mar (Brandão, 1994:216).

Com relação ao nascimento da deusa, duas versões podem ser destacadas. A primeira, mais antiga, mencionada em Apeles, é aquela presente no relato de criação de Hesíodo, a Teogonia. Nesta versão, Vênus/Afrodite nasce das espumas do mar, que são, na verdade, a mistura do sêmen e do sangue derramados de Úrano (o Céu), castrado por seu filho Cronos/Saturno numa disputa de poder. Em uma outra versão, encontrada na Ilíada, a deusa do amor nasce da união de Zeus e Dione.

É curioso notar que o aspecto mais terrível do mito fica fora desta composição: não há referências explícitas no quadro ao mito teogônico da castração. Em Botticelli, Vênus nasce de uma enorme concha, cujo simbolismo pode evocar as qualidades fecundantes, criadoras da água. Segundo Wind (1968), a postura da deusa sintetiza, ainda, a natureza dual do amor, ao mesmo tempo sensual e casto. Interpretada à luz do neoplatonismo, Vênus representaria a união de qualidades espirituais e instintivas, a transcendental "união de contrários" (ibid.). É o que Lopera et alii (1995:122) apontam como a fusão do reino da Venus Humanitas com a luz da Venus Coelestis, a luz divina.

Os personagens que a acompanham só vêm corroborar esta visão. Do lado esquerdo, estão os amantes Zéfiros, que exalam o sopro, o espírito da paixão – materializado nas rosas –, através do qual a deusa recém-nascida é movida e inspirada. O enlace dos dois amantes representa uma sensibilidade inflamada de paixão, influenciada pela versificação filosófica do De Rerum Natura, de Lucrécio. Nela, o poeta romano descreve um amor sensual e corporal, correspondente ao da imagem projetada em O Nascimento de Vênus.

"(...) Abriu-se a custo o olhar primaveril do dia, e que desenfreado reina o vento Zéfiro (...) o coração cheio dos temas violências (...) prisioneiro de teu encanto (...) a todos lanças no coração o amor de doces arrepios, e fazes com que, cheios de amor pela sua espécie, multipliquem as raças..." (Lucrécio, 1962: v. 9-18).

Tal sensualidade contrasta com a postura pudica de Vênus, completamente despida de senso erótico. Vênus representa o amor incorpóreo, o qual Botticelli fez questão de privilegiar, ao representá-la em primeiro plano, enquanto os amantes zéfiros subordinam-se às condições de segundo plano.


Do lado direito, vemos Flora representando a castidade, pronta a cobrir a nudez/sexualidade da deusa. Seu vestido, assim como o manto que carrega – ambos cobertos de flores –, podem ser ainda uma alusão à primavera, estação onde os poderes sensuais de Vênus estão no auge.

"(...)A Primavera e Vênus chegaram: à frente delas Flora, a mãe, recobre todo o caminho e enche-o de perfumes requintados (...) Divino, perante ti fogem os ventos e as nuvens do céu, perante ti e a tua chegada. Para ti a Terra, artista feminina, envia flores perfumadas, a superfícies dos mares dirigi-te um claro sorriso, e o céu cobre-te suavemente com os luminosos raios." (In: Deimling, 1995:43).

Todo o lirismo e poesia presentes na obra de Botticelli – "que se concentra menos na ação e mais no sentimento, através da adoção de uma atitude contemplativa" (ibid.:121) – fazem, em última análise, uma apologia da beleza que a figura de Vênus encarna. É a beleza que toma forma na água informe, fluxo contínuo, gerador de todas as coisas. "O Nascimento de Vênus" é uma alegoria, pela qual a mensagem divina desta beleza tão festejada chega ao mundo, através da síntese amorosa promovida pela já mencionada união dos contrários. Vênus é o poder que imprime a ordem transcendente nas coisas visíveis, traduzindo nas formas o spiritus perfumado e florido do divino:

"(...) Sob o seu símbolo, reina no ser humano a alegria de viver, na festa primaveril de embriaguez dos sentidos e no mais refinado e espiritualizado prazer da estética. Seu reino é o da ternura e das carícias, do desejo amoroso e da fusão sensual, da admiração feliz, da doçura, da bondade, do prazer e da beleza. É o reino daquela paz de coração que chamamos felicidade." ( Chevalier e Gheerbrant, 1996:938.)