sábado, 19 de novembro de 2011

A arte de ser feliz


 "Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia ser feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco. Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde, e em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz. Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. Ás vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz. Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim." Cecília Meireles

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Lágrimas e Chuva

As pessoas lhe perguntam - Como você está? - E a resposta vem quase automaticamente - Estou bem - Você responde que está tudo bem e para as pessoas está tudo bem que seja assim, porque elas não querem saber de fato o que acontece na sua vida. Temos uma tendência natural a dizer que está tudo bem, mesmo que ainda estejamos recolhendo os cacos quebrados que se espalharam pelo chão. O fato é que dificilmente alguém se recupera de um choque de realidade inesperado, de algo que simplesmente foge da compreensão humana. Você se sente sozinho e impotente. Como se nada que fizer vá amenizar essa dor. Como se ninguém pudesse lhe entender, a menos que sinta na própria carne. Mas não, não desejo que ninguém sinta isso na própria carne, tampouco na alma. É, a minha alma está fragilizada. Aos poucos eu tento juntar as partes que perdi, mas essa busca não tem sido nada fácil. Ninguém nunca disse que seria fácil, mas o peso da responsabilidade nas minhas costas torna tudo ainda mais difícil. Quando finalmente experimento o gosto doce da paz tão desejada, vem junto o gosto amargo da realidade me lembrando que não posso esquecer que existem planos maiores do que supõe a nossa vã filosofia. É como um tapa na cara que nos faz acordar e enxergar o quão egoístas somos por nos preocuparmos com coisas sem sentido enquanto existem coisas sérias acontecendo lá fora. Mas eu sigo adiante. Tropeçando, caindo, levantando. É como aquela música de um grande amigo meu que diz: "Eu sou dura na queda hard core, mas não perco a ternura jamais. Eu vou a guerra, mas sou de paz. Se num soco eu beijo a lona, eu me levanto. E o sangue agridoce em minha boca é o mesmo que me aquece o coração."

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Caminho dos Sonhos



Uma menina correndo em um campo florido, sentindo a brisa bater no rosto, flores de todas as cores e formas lhe fazendo sentir o perfume diferenciado de cada uma delas, o barulho suave que as folhas fazem ao sentir o toque do vento e a água de uma cascata correndo sobre as pedras lá longe. É isso que ela mentaliza nas noites em que não consegue dormir, e o elevado grau de detalhes criados em sua mente faz com que esqueça de todos os motivos que não permitem que o sono venha, e aos poucos seus olhos se fecham com aquela imagem nítida e limpa de uma paisagem que ela mesma criou. E ela sonha. Mas as vezes sente vontade de usar essa mesma técnica para esvaziar o seu coração. Não porque sinta o desejo de simplesmente excluir os sentimentos que existem nele e se tornar uma pessoa fria, mas porque gostaria de poder criar um cenário com tudo o que considera mais belo e com tudo o que mais ama, descartando as pedras e as flores murchas que possam aparecer no seu caminho. Ela sabe que de pés descalços corre um grande risco de se machucar, tropeçar e até cair, mas nem por isso vai deixar de lado a sensação única de estar com os pés no chão. Porque não quer deixar de sentir a brisa que invade seus poros e a faz sentir viva, de poder sentir o toque macio das flores no seu corpo enquanto corre em câmera lenta, de se deslumbrar com esse espetáculo de cores e perfumes que encontra, mesmo sabendo que esse caminho dos sonhos criado por ela talvez não leve a lugar algum. Mas é como aquela frase daquele filme que talvez tenha mudado o seu jeito de encarar a vida: "A jornada é o que nos traz felicidade. Não o destino. Ouça seu coração, tenha fé e aproveite a paisagem. O resto virá por acréscimo."

sábado, 12 de novembro de 2011

Mentir dá trabalho - Neurociência

Segundo Suzana Herculano-Houzel em seu livro "Pílulas da Neurocência - Para uma vida melhor", mentir dá muito mais trabalho ao seu cérebro do que falar a verdade. Mesmo que consiga maquiar os sinais do corpo, o cérebro que trama uma mentira dá sinais visíveis, e talvez inconfundíveis, ao equipamento correto.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O sono e a saúde mental


Dormir bem é essencial para nos mantermos com boa saúde mental e física, gerando assim, melhor qualidade de vida. Uma pesquisa realizada na China confirmou o que já se sabia, que boas noites de sono influenciam positivamente na saúde física, e quando isto não acontece, a saúde mental pode ser afetada intensificando sintomas de distúrbios  psiquiátricos já existentes ou favorecendo seu surgimento. Daí a importância de ser levado a sério o ato fisiológico do dormir. No sono, existem 4 fases (adormecimento, sono leve, início do sono profundo, sono profundo). Em 1953 descobriu-se que o sonhar ocorre na fase de sono profundo, ocasião em que surge o fenômeno intitulado REM (Movimento Rápido dos Olhos).

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

A tristeza permitida (Martha Medeiros)


 "Se eu disser pra você que hoje acordei triste, que foi difícil sair da cama, mesmo sabendo que o sol estava se exibindo lá fora e o céu convidava para a farra de viver, mesmo sabendo que havia muitas providências a tomar, acordei triste e tive preguiça de cumprir os rituais que faço sem nem prestar atenção no que estou sentindo, como tomar banho, colocar uma roupa, ir pro computador, sair pra compras e reuniões – se eu disser que foi assim, o que você me diz? Se eu lhe disser que hoje não foi um dia como os outros, que não encontrei energia nem pra sentir culpa pela minha letargia, que hoje levantei devagar e tarde e que não tive vontade de nada, você vai reagir como? 

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Um novo dia


...se iniciou e quando ela saiu de casa, o céu estava nublado. Mas havia um risquinho lá no horizonte que dizia que o sol não demoraria pra aparecer. Em poucos segundos resolveu dar as caras e ela pôde sentir o calor dos seus raios no rosto, respirou fundo e seguiu adiante, pois sabia que não seria um dia fácil. Ao dobrar a esquina viu algo que modificou completamente seus pensamentos e perspectivas para aquele dia. Um imenso arco-íris havia se formado e atravessava toda a cidade com suas cores magníficas e um brilho resplandecente. Assim ela seguiu, acompanhando e observando as cores durante todo o trajeto e sentindo uma imensa paz interior, como um bálsamo que acalmou o seu coração. Foi pensando sobre o que havia acabado de acontecer e se sentiu feliz em saber que mesmo em dias nublados, Deus sempre dá um jeito de nos mandar um sinal para que a gente saiba que não estamos sozinhos, que Ele olha sempre por nós, que não devemos nunca perder as esperanças. Agora ela quer continuar esse trajeto e descobrir outras maravilhas, entender um pouco mais sobre esses mistérios que norteiam a vida humana. Porque só assim ela conseguirá seguir em frente.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Equilíbrio


Ela havia prometido que antes do término do ano voltaria a escrever e decidiu fazer algo diferente dessa vez. Colocou sobre uma folha de papel todas as promessas feitas e recebidas e jogou nos dois lados da uma balança pra ver qual deles pesaria mais. Com isso pode constatar que há um estranho equilíbrio entre os lados, algo que ela não poderia imaginar. O peso das promessas feitas e não cumpridas é exatamente o mesmo das promessas recebidas e não cumpridas. Mas ainda assim havia uma dissonância cognitiva, algo a perturbava, ela não queria acreditar que a dor que havia sentido era a mesma dor que havia causado aos outros. Parecia algo imensamente maior, de uma proporção que não havia medida no mundo que pudesse determinar. Mas não, era exatamente do mesmo tamanho. Ali ela começou a enxergar que embora pensasse ter feito as coisas da melhor maneira, não conseguiu isentar os outros do sofrimento que sempre surge quando há pessoas e sentimentos envolvidos. Viu que deveria parar de sentir pena de si mesma e começar a fazer o que tem que ser feito, não se negar mais a ver o que está à sua frente e assumir de vez o seu papel na vida. Mas pra isso ela precisa sair de cena. Encontrar o seu ponto de equilíbrio. É hora de fechar as cortinas e organizar os bastidores. Só assim, quem sabe um dia, o espetáculo possa recomeçar.